quinta-feira, 27 de novembro de 2008

peleja digital contemporânea 2


"These new complexities have always existed, hidden within the pre-existing conventions. At the same time, the present potentialities furnished us by the computer simultaneously also repress and hide other operative possibilities. It becomes the job of we architect to construct the new tools and new algorithms able to produce the environmental complexes necessary for our present condition."
-Peter Eisenman

Essa citação de Eisenman nos apresenta alguns pontos muito interessantes. 
1
O meio digital estabelece um novo território, ou seja, novas "possibilidades operativas". Acreditando que os artifícios utilizados no projeto jamais são neutros, podemos afirmar que o computador foi uma mão na roda das neo-vanguardas. Se a perspectiva (artificial) teve um papel fundamental na arquitetura do Renascimento, principalmente como síntese de um espaço geometricamente ordenado e determinado, quais novas espacialidades o computador nos permite conceitualizar hoje ?

2
Os algoritmos podem ser uma das respostas. Operando a partir de regras (e não diretamente em um resultado final) para gerar arquitetura, expandimos o leque de possibilidades espaciais e formais, além de permitir o acesso de novos agentes e dados nesse processo. Acredito que isso alinhe o pensamento arquitetônico com a idéia de emergência e complexidade, pois deslocando-se o interesse da forma final para o processo, há um grande potencial para a interação de agentes/dados múltiplos dentro da operação, possibilitando-se interfaces antes impensáveis.

3
Entretanto, tenho uma pequena ressalva. Eisenman trabalha com a idéia de uma condição presente, ou seja, a idéia de que existe um espírito contemporâneo, e que devamos nos esforçar para almejar essa condição. É uma postura muito autoritária, que dita a necessidade de se utilizar uma dada tecnologia, de uma forma específica, para não ficarmos desatualizados com nosso tempo. Peter, onde está a liberdade de expressão ?

4
Por fim, apresento o projeto de Peter Eisenman da Cidade da Cultura da Galícia, fruto de um concurso internacional em 1999, vencedor da concorrência com arquitetos do Star System como Koolhaas, Libeskind, Nouvel, Perrault, e Holl. Eisenman estabelece uma proposta conceitual e formal muito forte. Baseia-se na idéia do palimpsesto, que problematiza a questão da visão/percepção da arquitetura. O projeto é formulado a partir de 2 conjuntos de geometrias: a planta medieval do centro de Santiago e uma grelha cartesiana original, que são distorcidos digitalmente tendo referência figuras topográficas e simbólicas (no caso uma concha). Esse procedimento sintetiza a arquitetura como uma matriz de informações e torna imprecisa a distinção entre topografia, edifício e um tecido urbano. Bem ou mal, o objeto arquitetônico é uma nova presença, original, mas estranhamente familiar.
Para saber mais do projeto clique aqui ou aqui

Sem entrar (por ora) no mérito das qualidades e deficiências desse projeto, nesse breve espaço me interessa apenas aponta-lo como um exemplo de manifestação da arquitetura contemporânea de vanguarda. 

Provocação: a sobreposição de tecidos distintos e o uso de um processo diagramático pode ser um ponto de contato da idéia de uma arquitetura sintática que Eisenman vem desenvolvendo há décadas com os temas que tratamos nesse blog ? Será que de alguma forma assimilou/consumiu a idéia de complexidade ? Ou será que faz o que lhe der na telha e se vale de discursos contemporâneos para legitimar seus projetos ? (ou quem sabe tudo isso ao mesmo tempo)

Nenhum comentário: